2.9.09

Full-time mom

Se você me conhece da era pré-Benjaminzóica, provavelmente se chocará com esse post. Porque uma garota antenada, descolada, divertida e do barulho como eu, nunca, jamais vislumbraria um futuro tão funesto para si.

Por pressão da família, eu sempre achei que seria uma péssima mãe. A Fernanda ranzinza, mal-humorada, desorganizada e viciada em computador nunca conseguiria cuidar de um bebê. Mãezona mesmo é minha irmã, que fazia mamadeiras pra mim quando tinha 4 anos, escalando as bancadas da cozinha pra pegar o Neston lá no alto da geladeira (mãezona mesmo não era minha mãe, que deixava minha irmã ter que fazer isso, haha).

Aí minha irmã foi mãe, se formou e teve que trabalhar. Trabalha em dois municípios diferentes, passa o dia inteiro fora de casa e eu faço a lição com o filho dela (porque se precisasse fazer mamadeira, também ia subir na bancada, 1,60m pride). Ela morre um pouco por isso, mas ele tem festa na Game Station, mais brinquedos do que consegue brincar e se veste melhor do que o *insira o nome de algum homem que se veste muito bem aqui*.

E eu vejo nisso, e em quase todas as famílias ao meu redor, uma inversão de valores medonha. Porque hoje em dia a gente aprende que temos que trabalhar para poder dar as melhores coisas para nossos filhos, mas o trabalho nos consome e acabamos tendo que dar as coisas para suprir a nossa ausência, e de que adianta mesmo dar um monte de brinquedos para uma criança se você não poderá aproveitá-los com ela?

Estou terminando a faculdade de jornalismo, e não só não tenho experiência na área como nunca procurei ter. Não tenho faro, tino, instinto, ou aquela faíscazinha mágica que papai do céu colocou nos intrépidos colegas. Se a necessidade faz o homem, aqui em casa ela fez o jornalista, na forma de Victor, que precisou trabalhar desde o primeiro ano de faculdade pra se manter. Ele tem experiência, ele tem contatos, e mais importante ainda, ele tem emprego.

E cá entre nós, eu não vejo problema na situação onde ele trabalha e eu fico em casa brincando de free-lancer e cuidando de Benjamin, porque eu acho que mais importante do que roupas da Tigor, é Benjamin ter a presença constante de um dos pais, em vez de uma babá que o cansará de Xuxa só para Baichinhos (para quem não sabe, fui alfabetizada em inglês) antes de seu segundo aniversário.

Então meus planos futuros envolvem mudar para uma casa não tão grande, sem ar-condicionado, com um quintalzinho onde eu possa passar o dia com Benjamin, quem sabe até plantar um manjericão, e deixar tudo nos trinques para esperar Victor com um jantar quentinho na mesa à noite. Isso faz de mim menos inteligente? Faz de mim menos capaz?

Claro que isso tudo vai mudar se eu passar no mestrado, porque eu vou ficar em casa brincando de pesquisadora e sendo paga pra isso, e a vida será um pouco mais fácil. E por favor, guardem esse post pra esfregar na minha cara caso eu venha a sucumbir às pressões paternas de "eunãotecrieipraserdona-de-casa".

E se Victor me der um pé-na-bunda porque um belo dia ele descobrirá que não, eu não sei cozinhar, eu estarei na rua da amargura. Para diminuir tal risco, amanhã farei a super Oficina de Culinária Vegan, e como sou dubem, aproveito pra fazer o merchan de forma digna.

16 comentários:

Yves Bastos 3 de setembro de 2009 às 00:12  

haha
blog muito bom, nanda.
:*

Érika Zemuner 3 de setembro de 2009 às 00:17  

Nanda, juro que se fosse o blog de outra pessoa que se tornou mãe e se propusesse a escrever suas aventuras maternas, eu não leria. Sei lá, maternidade nunca foi algo do meu interesse, já que eu decidi desde os 14 ou 15 anos que não teria filhos (sou egoísta demais pra isso, me processem!). Mas, meu (herança de tantas idas a SP, perdão), é você! E o que isso significa? Eu sabia que seu blog seria muito mais do que simples "hoje o Ben fez cocô", "hoje o Ben falou a primeira palavra". Que me desculpem as mães que lêem este espaço e até curtem esse tipo de assunto, mas isso tudo é muito boring. Mas, sendo você, eu tinha certeza de que seria algo divertido e interessante até pra mim. Quer dizer, você não é nada incapaz e ter coragem de dizer que decidirá pelo seu filho caso precise fazer essa escolha, só confirma isso.

Acho que a mulher sempre foi estigmatizada socialmente. Elas não podiam votar, não podiam dar opinião, não eram nada. Mas, pra conquistar esses direitos e uma ascenção social, outros estigmas foram criados e, hoje, mulher que fica em casa é que vale menos. Eu sinto pela minha mãe que felizmente sempre ficou em casa e criou a mim e meus irmãos muito bem. Ela mesma às vezes se sente inferiorizada por não ter tido um emprego, mas eu sinceramente agradeço a educação que tive e não vejo tudo que ela fez por nós como uma coisa menor que uma carreira profissional. Tem que ser muito mulher pra ser mãe.

E, não é porque eu sempre gostei muito de você, mas você aparenta estar desempenhando esse papel muito bem, além de demonstrar isso de forma inteligente e divertida.

Érika Zemuner 3 de setembro de 2009 às 00:19  

Sorry aê o tamanho do comentário =x

Luísa 3 de setembro de 2009 às 00:21  

Adorei o post, Nanda.
Beijos

Nanda 3 de setembro de 2009 às 01:14  

Érika, eu relutei bastante em fazer o blog justamente por isso. Fiquei com medo de resvalar no senso-comum dos blogs maternais, não tanto por causa dos leitores, mas porque como quero que o blog sirva de memória pra mim e pra Ben, ao menos um pouquinho do que eu sou tinha que vir parar aqui né?

Esse teu raciocínio caminha de mãos dadas com o post. Ser dona de casa é um estigma muito grande, a mulher hoje em dia tem que dar conta de tudo, filhos, emprego, casa, marido, mas no final das contas não dá conta de nada e surta. Eu não quero surtar. E coincide de não querer seguir carreira na área que "escolhi", e de Benjamin ter vindo agora.

Se meu pai não me sustentasse e eu não devesse muita coisa a ele, já tinha assumido essa posição de only-mãe há muito, trancado a faculdade e tudo, mas vou precisar amaciar bastante o terreno antes de jogar a bomba.

E nada, pode comentar com o máximo de caracteres (ou seja, infinitos), adoro ler. :D

Soraya 3 de setembro de 2009 às 01:55  

Nanda... né por nada não...
Mais qnd perguntam o que eu vou fazer eu falo que vou ficar em casa criando filho!!!
auhahahuhua
TOdos me condenam mode on!

Érika Zemuner 3 de setembro de 2009 às 02:46  

Justamente, foi nisso que eu sempre confiei quando vi que você ia começar um blog pra contar as suas histórias com o Benjamin. Não combinaria nada com a Nanda que eu conheci um monte de assunto sentimentalista e batido sobre ser mãe.

E parece que você tá conseguindo ser a Nanda e a mãe do Ben ao mesmo tempo =)

Lu Azevedo 3 de setembro de 2009 às 03:40  

Olha Nanda, não é por nada não, mas pra quem *tem dificuldade em dar continuidade às coisas* vc está se saindo bem DEMAIS, escrevendo um post atras do outro!

Seus planos futuros com cheirinho de manjerição não poderiam soar melhor, viu...

E pra mim, inteligente e capaz é quem consegue manter the wheels of life in motion, buscando sempre o que te faz feliz, melhorando sua qualidade de vida e a dos outros ao seu redor... seja trabalhando ou em casa.

Eu to no mesmo barco, com os mesmos tipos de indagações. No momento, sei que o que escolhi é o melhor pra mim e minha familia... pode não ser daqui um tempo... é esperar pra ver.

Anderson Santos 3 de setembro de 2009 às 14:55  

Não esqueço a minha reação quando o Victor me contou sobre sua gravidez - e ter que esconder a todos quando me perguntavam "pq eles não vão mais viajar?".

Ambos têm me surpreendido muito, positivamente, como pais. Ah, mais duas coisas:

1. Ontem, fui contar ao meu pai sobre o post anterior e o fato do Victor "babar" pelo Benjamin. A resposta dele: "Eu já fiz isso também";

2. Você escreve bem para caramba, sabe ser sucinta e é muito criativa. Olhe que já revisei textos de muitos outros colegas e gosto de escrever bastante.

Flavia C. 4 de setembro de 2009 às 13:46  

Eu tambem queria esse futuro p mim... ficar em casa cuidando dos rebentos, porém maridao nao concorda, ainda está na fase do TER. Como terminei o mestrado poderia tentar ser pesquisadora em casa. Mas quem consegue ficar em casa e nao querer estar com esses tezourinhos o tempo todo curtindo cada risada, cada choro, ficando feliz com o cocozao e triste com as colicas???
Vou tentar fazer o doutorado com bolsa de estudos e adiar o mercado de trabalho por mais um tempo, enquanto isso vou curtindo minha filha...se bem que vai ser dificil ficar em casa estudando concentrada.
To adorando ler seu blog, vc escreve muito bem. Eu adoro escrever mas escrevo muito péssimo de horrível kkkkkkkk.
Bjs

MIL@ 5 de setembro de 2009 às 21:13  

Nanda,
não sabes o quanto me identifico com v´rias coisas que você coloca nos teus posts...incrível...
Tenho uma coisa pra dizer: vc querendo ou não é uma Puta Jornalista que escreve bem pra caralho.....(colocando meu lado mãe boca suja pra fora...)
Adoro ler as peripécias do Ben e da família Tuxa...

bjssssssssssss

Anne 10 de setembro de 2009 às 21:04  

Ai, Nanda... eu trabalho pra danar, passo o dia fora e ganho pouco (leia-se 'sou professora'). Resumo da ópera: um filhote meu não contará com minha presença assídua em casa e nem com as tais coisas que as pessoas querem juntar para dar aos seus filhos. Aliás, lembro-me agorinha mesmo: é por esse motivo que adiei até agora os planos de ser mãe...

Esse parágrafo vai ecoar em minha mente por um bom tempo: "E eu vejo nisso, e em quase todas as famílias ao meu redor, uma inversão de valores medonha. Porque hoje em dia a gente aprende que temos que trabalhar para poder dar as melhores coisas para nossos filhos, mas o trabalho nos consome e acabamos tendo que dar as coisas para suprir a nossa ausência, e de que adianta mesmo dar um monte de brinquedos para uma criança se você não poderá aproveitá-los com ela?"

Shuellen 11 de setembro de 2009 às 15:02  

Ai Anderson, eu também lembro com penar disso. Eu ficava sem saber o que fazer, você ainda tinha a desculpa de ser calado, e eu??? Eu só respondia sucintamente "não sei, ainda não conversei com ela." ahahahahahahha
E concordo, Nanda você escreve muito bem cara.

bjos

Luiza 13 de setembro de 2009 às 22:57  

OI. Também faço uns trabalhinhos free e fico em casa com meus filhos. Hoje. Anos atrás eu trabalhava em dois empregos, deixava minha filha com uma babá e em uma creche. Ficava com ela no final de semana com uma culpa que me doía até nos ombros, pq não achava certo ficar com minha filha dois dias e os outros cinco ela ficar com pessoas estranhas. Ficava me perguntando qual o objetivo de ter um filho? Pra mostrar fotos e dormir ao lado dele, mas não saber nem o que ele comeu no almoço? Não saber se chorou, se brincou, se já tem amigos, se está feliz de verdade? No segundo filho desisiti, larguei tudo de mão. Eu e meu marido conversamos e concordamos que eu ficaria em casa. Hoje não temos aquele dinheirinho sobrando, nem podemos levar a galerinha no Mac todo final de semana, mas eu posso sar bom dia todos os dias pros meus filhos e continuar agarrada a eles durante um bom tempo, sem pressa de sair da cama. Posso fazer o almoço e saber se eles estão se alimentando direito. Posso levar minha filha a aula e desejar uma boa tarde, sempre com u beijo. Posso tantas coisas, que nem sei como antes eu conseguia ficar longe deles. Um abraço pra ti e pro Ben.

Nanda 14 de setembro de 2009 às 00:28  

Luiza, tu te arrependes? Eu vislumbro um futuro tão mais feliz vendo Ben crescer todos os dias, em vez de de repente, um dia, olhar pra ele no colo da babá e falar "nossa, aonde eu estava enquanto meu filho virava esse menino?" E juro que preferia mil vezes que minha mãe tivesse feito uma escolha semelhante, tenho pouquíssimas recordações familiares com ela...

Andréa M 17 de setembro de 2009 às 00:42  

É muito bonito ver esse valor e a coragem para se assumir "dona-de-casa", quando estamos acostumados a ver isso como "retrô". O problema de antes não eram as mulheres serem apenas "donas-de-casa', era a impotência para escolher o que se queria. Eu admiro a sua escolha. Seu blog me faz refletir sobre muitos valores. Apesar de eu não querer ser mãe tão cedo, eu adoro lê-lo. E nunca se sabe... ^^