24.2.10

A saga peitoral (ou senta, que lá vem história)

Esse fim de semana eu fui pra Recife. Como tomei um pé na bunda (e já havia previsto, lembram?), achei por bem começar a garantir o pão (integral) de Benjamin por algum lugar e me tornei concurseira. Fui lá pra primeira prova de concurso da minha vida, um cargo altamente burocrático na Secretaria de Administração de Pernambuco, que não tem nada a ver comigo, nem com a minha área, fui porque sou masoquista e perdulária, quis gastar dinheiro ã toa, porque nem estudar eu estudei.


Como a prova era domingo de manhã, fui no sábado à tarde, pra dormir lá, fazer a prova e pegar o beco de volta pra Maceió. Optei por não levar o Benjamin porque olha, a ida de ônibus pra Recife é complicada, chata, cansativa. E pegaria o horário mais punk de Ben, que é o final da tarde/começo da noite, e uma coisa é você TER que levar uma criança choraminguenta no ônibus porque não tem outra opção, outra coisa é você levar por levar, e obrigar todo mundo do ônibus a compartilhar da complicação.

Mas não seria porque eu escolhi viajar sem um bebê que não haveria bebê no ônibus. Havia. E sentou ao meu lado no colo da mãe. 6 meses com tamanho de 4 por causa da prematuridade ao nascimento, Jojô havia tomado dois danones de morango na rodoviária, uma chuquinha de água e uma mamadeira de leite com nesquik (ainda existe, gente? era uma parada de morango que deixava o leite rosa, na minha época chamava nesquik), antes mesmo de cruzarmos a fronteira estadual. Junte isso com a mãe enfiando a chupeta na boca da menina o tempo inteiro (mesmo quando Jojô não queria a chupeta - acho que ali eu vi nascer uma bulímica) e o balançar do ônibus que você tem o resultado previsível: ela vomitou. Em cima da minha sandália. A única que eu havia levado, já que passaria apenas uma noite. E chorou né. 

Alguém aí sabe qual é a resposta física de uma mãe que amamenta ao choro de um bebê? Conto já. 

Meu bebê mama pra dormir, e dorme pra mamar. Ainda acorda no mínimo duas vezes por noite pra mamar, e eu nem ligo porque na cama compartilhada isso não me estressa, e ficar paranóica com o sono do menino dá rugas, viu? Então à noite é o horário em que sou mais lactante. O choro de Jojô no ônibus havia despertado um monstro lactífero dentro de mim, e eu já cheguei em Recife toda trabalhada na vaca holandesa. Dormi incomodada com a fartura peitoral, acordei coberta de leite, fui tomar banho e tentar ordenhar manualmente, mas tortura chinesa define (e falta de habilidade também).

Deixei pra lá e fui fazer o concurso. A preocupação com a prova (e alguém me explica por quê eu estava tão preocupada com essa prova, gente? Não havia a mínima condição de passar...), a saudade do filho, aquilo tudo foi apertando no peito literalmente, e antes da metade do tempo de prova eu mal conseguia abaixar os braços para escrever. Empedrada, dolorida e cheia de leite para doar, lembrei que no caminho para a prova havia passado por uma maternidade e provavelmente haveria um banco de leite lá, e fui à pé.

(Recife fica a 3m abaixo do nível do mar. Sabe o inferno? Pegou Recife de parâmetro e deu uma esfriada.)

Daí na maternidade passa por uma, duas, três recepções. É lá em cima, moça, a enfermeira tá ali, moça, ah, tem que ir na recepção de urgência, tem que passar por avaliação ginecológica e pagar uma taxa de R$13,50 para utilizar o banco de leite, sim, compreendemos que você vai doar o leite para o nosso estoque, tem que pagar a taxa do mesmo jeito, ah, mas não atendemos o seu plano, não moça, mesmo que seja nacional, vai ali no hospital do seu plano que eles tem banco de leite.

- Seu taxista, o hospital do Plano X fica muito longe daqui? 
- Olha, longe, loooonge não fica não. Porque no sol tudo fica longe né? Mas é perto.
- Dá pra ir a pé ou você acha melhor pegar um táxi?
- Não, dá pra ir a pé.

(Recife, 3m abaixo do nível do mar, é o único lugar onde os taxistas procuram desculpas para não trabalhar, e recusam passageiros que estão ansiosos pra pegar uma porcaria de um táxi pra sair daquele sol escaldante, ordenhar os peitos e viverem felizes para sempre.)

...20 minutos de caminhada depois, o banco de leite do hospital do meu plano estava fechado. Liga no IMIP, fechado também. E não, ninguém sabia informar aonde eu poderia conseguir esse tipo de atendimento, porque tipos, neurocirurgia, né. Super raro e difícil ligar uma máquina de ordenha.

A essa altura eu já estava em prantos, xingando até a mãe da cidade, como é que eu estava em um bairro cheio de hospitais e nenhum tinha um banco de leite aberto. A dor nos úberes havia atingindo um nível insuportável, e eu resolvi sair andando a esmo até encontrar um hospital aleatório, se não tivesse banco de leite, tinha ar-condicionado. Daí vi uma plaquinha "HOPE", e sem saber o que era, acreditei naquele momento premonítico e me agarrei nessa última Esperança (sagacidade, a gente vê por aqui).

Porque o HOPE é o Hospital de Olhos de Pernambuco, um trocadilho ishperto com o hospital-parceiro Esperança, ficam interligados por uma passarela lá no alto, muito chique. A plaquinha me levou até o Esperança, mais uma, duas recepções, banco de leite fica no G3, é só tocar o interfone. Não precisa ser avaliada não. Não precisa pagar taxa não. 

Cheguei lá, expliquei meu caso de morte vida severina pra enfermeira, ela me ouviu, me deu uma mão amiga, uma aguinha, um armário pra colocar as coisas e um kit descartável de colete, touca e máscara. Lavei as mãos na torneirinha moderna que abre com o pé, e fui colocada numa máquina de ordenha. Alívio. Daí a enfermeira pegou um potão de Nescafé, de um tamanho que eu nunca tinha visto antes, e computou o resultado de 10 minutos de tiroleite: 350ml de uma só sentada. A única vez que eu tirei 350ml de leite foi ao longo de 1 semana ordenhando pra deixar estoque pra Benjamin quando eu fosse pra faculdade. 1 semana de produção em 10 minutos. Alguns bebês do Esperança vão ser bem alimentados por um tempinho...

9 comentários:

Mariana Tezini 25 de fevereiro de 2010 às 10:28  

e a prova? hoho

Carol 25 de fevereiro de 2010 às 14:17  

Genteee, como pode?? aff jesuis! MAs ainda bem q conseguiu tirar o leite. COm suor, sofrimento e a pele queimada. rs

bjinhus

Cepcom-Comulti/AL 25 de fevereiro de 2010 às 15:04  
Este comentário foi removido pelo autor.
Anderson Santos 25 de fevereiro de 2010 às 15:06  

hahahahahahaha. Só rindo mesmo - e para evitar comentários tendenciosos sobre Pernambuco.

Mas é um absurdo vc ter que pagar uma taxa para fazer doação de leite materno. Não sei se por lá é um paraíso, mas aqui em Maceió tudo o que signifique doação sempre precisa de ajuda: leite, sangue. E por aqui, se quiser, ainda vai alguém na sua casa buscar. Tsc, tsc, eles ainda têm muito o que evoluir...

Nanda 25 de fevereiro de 2010 às 21:57  

Hahaha, Andinho, eles tem um centro que é referência sulamericana em coisas de bebês e mães, que é o IMIP (Instituto Materno-infantil de Pernambuco), mas o banco de leite deles fecha no fim de semana! Esse negócio de pagar pra doar leite é só nesse hospital doido, que é tipo uma mansão dentre os hospitais.
Eu tentei refrear meus comentários tendenciosos sobre Pernambuco também, acho que até consegui, hem?
Mari, a prova eu fiz. Como não tinha estudado mesmo, quando o desespero acertou eu saí chutando, inventei respostas das questões discursivas e fui a primeira a sair da sala, 2 horas depois do início... E o mais engraçado é que depois eu fui conferir as questões dicursivas e as minhas respostas inventadas (e o chute do nome de um autor lá) até que estavam bem parecidas com as respostas de verdade... Mas com uma concorrência de 20 por vaga, vai ser difícil passar...

Anderson Santos 26 de fevereiro de 2010 às 14:05  

Se a gente considerar isso ["(Recife fica a 3m abaixo do nível do mar. Sabe o inferno? Pegou Recife de parâmetro e deu uma esfriada.)"] fora do texto você conseguiu refrear sim. Até porque Alagoas é bem quente também e Brasília, pelo que dizem, é bem seco.

Aline Tavares 26 de fevereiro de 2010 às 21:09  

Ai Nanda, tu me mata de rir!
Ah, e aqui também vem gente buscar em casa a doação de LM. Não fala mal da minha terra não! :P
Veja lá se o pé fofinho de Ben ainda cabe no all star, porque ele vai ficar mais lindo ainda! Rá! :)
Beijos.

Nathaly R. Cavalcante 27 de fevereiro de 2010 às 17:49  

Concorrência de 20 pra 1!!!!!! Sou concurseira há 2 anos e essa é a menor concorrência que já vi! Tava toda feliz pq o último q fiz foi só 200pra 1!

Anne 27 de fevereiro de 2010 às 23:29  

Essa história me fez lembrar os 12 trabalhos de Hércules, rsrsrs. Fiquei cansada e suada só de imaginar a situação. rsrsrsrsrs